Quando o professor é notícia? Imagens de professor e imagens do jornalismo
Abstract
Esta investigação buscou depreender o momento em que o professor torna-se notícia no jornalismo brasileiro, com o objetivo de analisar, a partir do fato noticioso qual é imagem construída do professor da educação básica, uma vez que prevalece no jornalismo um modo de ler e escrever que ignora a presença do inconsciente nos sujeitos da escrita. Para cumpri-lo, reunimos como corpus matérias jornalísticas, incluindo notícias e artigos, publicadas entre janeiro de 2009 e janeiro de 2010 no jornal Folha de São Paulo e também notícias publicadas, entre 2006 e 2011, em veículos de informação variados. Pensando na insistência do jornalismo profissional em se apresentar como porta-voz da realidade e de como, para nós, tal insistência decorre de um deslize ideológico próprio de uma concepção de linguagem que ignora o sujeito do inconsciente, analisamos os textos a partir do conceito de Ideologia (HERBERT, 1995), que depois foi reelaborado no quadro da Análise do Discurso por Michel Pêcheux (2010). Ao deparar-nos com a complexidade do material analisado, buscamos referências teóricas para sustentar nossa análise em diferentes campos do saber, além daquele da Análise do discurso. Portanto, considerou-se neste trabalho a contribuição da Análise Crítica do Discurso, da Sociologia da Comunicação e da Psicanálise, de orientação Lacaniana. Para recuperar o diálogo que se dá no processo de constituição da imagem do professor no discurso da mídia, primeiramente identificamos, quantificamos e qualificamos as fontes de informações que foram utilizadas com maior frequência na composição do texto jornalístico, de modo a observar a prevalência do discurso dos especialistas do campo da educação. Assim, partindo dessa materialidade, recuperamos as imagens do professor construídas no discurso jornalístico e a relação dessas imagens com os modos de ler e escrever no jornalismo que constituem também imagens sobre o próprio jornalismo. A análise levou-nos a identificar uma prática jornalística que tenta apagar a presença do inconsciente na escrita e acaba por reduzir as possibilidades de reflexão, resultando em homogeneização da imagem do professor. Mostramos que se há de fato no jornalismo uma pretensão de tomar a realidade como expressão não dialetizável de suas crenças, essa é reforçada na identificação do discurso dos especialistas em educação. Nossa pesquisa observou um processo de identificação que marca a relação do jornalista com o especialista consultado. Tal processo permite ao primeiro legitimar sua fala pelo traço com o qual se identifica ao outro, limitando a pluralidade e colaborando para que o discurso jornalístico engendre-se em um discurso reacionário e moralizante. Concluímos que a leitura e a escrita no ensino de jornalismo deve cada vez mais enfocar a insustentabilidade teórica da objetividade e possibilitar novos modos de contextualizar a cobertura em educação. Em nossa avaliação, se o momento atual é de perda das referências cristalizadas a respeito do que é ser um professor, também poderá ser um momento extremamente criativo para encontrarmos novas formas de apresentação do sujeito professor no âmbito da imprensa e, consequentemente, pode ser um momento muito criativo para o jornalismo
==ABSTRACT==
This investigation has aimed to understand the moment in which the teacher becomes news in the Brazilian journalism. Its objective is to analyze, from the news event the image of school teacher that is constructed, once it is prevailed in journalism a way of reading and writing that ignores the presence of the unconscious within the writing characters. In order to do so, there was a compilation of a corpus of printed news, including news and articles, published between January 2009 and January 2010 at Folha de São Paulo. Different sources of news, published between 2006 and 2011, were also collected. Considering the fact that professional journalism insists in presenting itself as a spokesperson of the reality, we state, that this insistence is a result of ideological slip proper of a conception of language that ignores the subject of the unconscious, the texts were analyzed based on the concept of Ideology ( HERBERT, 1995), later elaborated in Discourse Analysis by Michale Pêcheux (2010). As faced the complexity of the analyzed material, theoretical references were sought in order to sustain our analysis in different areas, besides Discourse Analysis. Therefore, in this investigation not only was Critical Discourse Analysis considered but also Communications Sociology and Lacanian Psychoanalysis were taken into consideration. In order to look into the dialogue that takes place in the process of constitution of the teachers image in the media, firstly we identified, quantified and qualified the sources of information that were mostly used in the composition of the journalistic text, so that we could observe the prevalence of the discourse of the specialists on the education field. Thus, based on this materiality, we gathered the images of the teacher built in the journalistic discourse and the relationship of these images with the ways of reading and writing in the journalism that build its own image. By the analysis, we have identified a journalistic praxis that tries to eliminate the unconsciouss presence in writing. That ends reducing the possibilities of reflection and resulting in the homogenization of the teacher's image. We have shown that if there is in journalism an intention of taking the reality as unspoken expression of its beliefs, this is reinforced by the identification in education specialists discourse. Our investigation observed a process of identification that designates the relationship between the journalist and the consulted specialist. Such process allows the first one to legitimate his speech by the feature which he identifies itself with the other, limiting its various facets and contributing to the creation of a reactionary and also moralizing discourse. We concluded that the reading and writing within the teaching of journalism should focus ever more on the theoretical unsustainability of objectivity and therefore it should make it possible new ways of contextualizing the cover of the education area. We consider that the current moment represents a loss of strong references of what it is to be a teacher. It can also be an extremely creative moment in order to find new ways of introducing the teacher character within the press and, consequently, it can be an very creative moment for the journalism itself.