Transferência em orientação: efeitos de intervenções em textos acadêmicos
Abstract
Esta tese compõe o conjunto de pesquisas coordenadas pelo projeto coletivo Movimentos do Escrito, desenvolvido pelo Grupo de Estudos e Pesquisa Produção Escrita e Psicanálise GEPPEP. Tem como objeto de estudo as intervenções feitas por um orientador em um processo de escrita acadêmica. Versa não só a respeito das produções textuais propriamente ditas como, também, tematiza o laço do professor-orientador e de seu aluno-orientando que facilita a sustentação do trabalho por meio do qual são produzidas. Postula a existência de uma correlação entre as intervenções do orientador e o processo de escrita do texto acadêmico realizado sob orientação. Os dados analisados são as várias versões do trabalho de conclusão de curso de Joana, a aluna-orientanda, o diário clínico da professora-orientadora e os e-mails trocados entre ambas durante a realização do curso de pós-graduação. Busca responder duas questões: a) Quais os manejos realizados por um professor-orientador para promover, quando julga necessário, a reescrita do texto pelo aluno-orientando? e b) Quais efeitos essas intervenções provocaram na escrita do orientando? Para respondê-las, construiu-se uma interlocução entre os estudos da educação e os da psicanálise de orientação lacaniana. Assim sendo, o entendimento sobre o laço entre o professor-orientador e seu aluno-orientando partiu do conceito de transferência cunhado por Freud (1912): vínculo que se estabelece exclusivamente nas relações humanas, em especial naquelas que se configuram como um processo no qual o agente depende de um parceiro mais experiente para ter sucesso. Posteriormente, considerou as reelaborações de Lacan (1964/1998), que, por sua vez, subordinou este afeto à suposição de saber a respeito dos modos de satisfação do ser humano. Freud define o conceito de transferência e, depois, Jacques Lacan o ressignifica não mais privilegiando a realidade empírica do sujeito, mas sua dimensão fantasmática. A metodologia do trabalho está fundamentada na pesquisa psicanalítica, a partir da qual se fez uma construção do caso, tal qual proposto por Fédida (1992). Como resultado desta investigação, foi possível perceber que a intervenção/manejo do professor-orientador pode provocar mudança no laço estabelecido entre ambos, alterando, assim, a posição do orientando frente a sua escrita. Foi, ainda, possível mostrar que, no caso específico aqui tratado, Joana, a orientanda, saiu de uma posição de inércia frente ao saber para assumir uma postura investigativa a partir da qual pôde construir seu trabalho.