Currículo, cultura e educação matemática: uma aproximação possivel?
Abstract
O presente estudo insere-se na linha de pesquisa Currículos, ensino e aprendizagem em Matemática, do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Matemática e Educação (GEPEME), da área de Ensino de Matemática e Ciências do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e tem como objetivo investigar em que medida o conhecimento matemático é usado na sociedade contemporânea e como se manifesta nas relações de poder; e compreender sobre e como as práticas de significação interferem na organização e construção do currículo da Matemática da Educação Básica. Metodologicamente, inclui-se numa abordagem qualitativa de pesquisa, na modalidade ensaio teórico e articula práticas discursivas que têm sido pouco confrontadas com a Educação Matemática, mais precisamente, com o currículo da Matemática escolar, ao longo dos últimos anos. Teoricamente, fundamenta-se em estudos sobre as diferentes teorias de currículo procurando analisar o papel que as disciplinas escolares ocupam em cada uma dessas teorias; em estudos sobre a centralidade da cultura para discutir as questões da contemporaneidade; e em estudos na área de Educação Matemática, tais como Etnomatemática, Enculturação Matemática, Educação Matemática Crítica e Modelagem Matemática por serem estudos que articulam-se, sobremaneira, com o cultural, o político e o social da Educação Matemática. Ao tratar-se das disciplinas escolares, recuperando os conceitos de conhecimento poderoso, legítimo, de status elevado e não elevado, da relação mútua entre saber e poder, do currículo como prática de significação, conceitos esses que dão sentido às ações e permitem interpretar ações alheias e que quando tomadas em seu conjunto formam as culturas, pensou-se na Matemática escolar, nos saberes matemáticos institucionalizados ou não. Matemática escolar essa que como prática social, cultural e política deveria privilegiar e dar mais atenção aos menos favorecidos, fazendo ecoar as suas vozes. É por essa Matemática escolar, mais igualitária e menos representante do pensamento hegemônico que se construiu uma proposta alicerçada em conceitos-chaves estruturados em teorias curriculares e educacionais em consonância com a Etnomatemática, que auxilia no fortalecimento da ideia de que o conhecimento matemático é hibridizado e fundamenta-se, sobretudo, na reestruturação e fortalecimento das raízes das vozes silenciadas; com a Educação Matemática Crítica, que preocupa-se sobremaneira com os aspectos políticos da Educação Matemática, isto é, com as questões relacionadas à temática do poder; com a Modelagem Matemática, que é uma importante peça constituinte das discussões envolvendo a Matemática escolar e as relações de poder; e com a Enculturação Matemática, que apresenta uma proposta de currículo da Matemática escolar com a centralidade na dimensão cultural.
===ABSTRACT===
This study is part of the research line "Curriculum, teaching and learning in mathematics", developed by the Group of Studies and Research in Education and Mathematics Education (GEPEME) from the Teaching of Mathematics and Science area in the Post-Graduation in Education Program of the Faculty of Education - University of São Paulo (USP) and aims to investigate the extent to which mathematical knowledge is used in the contemporary society and how it manifests itself throughout power relations; and also to understand how practices of meaning interfere in the organization and construction of the mathematics curriculum of basic education. Methodologically, this study is a theoretical essay and has adopted a qualitative approach to research. It articulates discursive practices that have rarely been confronted with mathematics education, more precisely, with the curriculum of school mathematics. Theoretically, it is based on studies on different curriculum theories seeking to analyze the role that school subjects play in each of these theories: in studies on the centrality of culture to discuss contemporary issues; and, in studies in the area of mathematics education such as ethnomathematics, mathematical enculturation, critical mathematics education and mathematical modeling, because they are articulated, above all, with the cultural, political and social aspects of mathematics education. When we dealt with school subjects, recovering the concepts of legitimate, powerful knowledge, high and not-high status, the mutual relationship between knowledge and power, the curriculum as a practice of meaning; concepts that give meaning to actions and allow us to interpret others actions and that when understood as a whole, form cultures; we thought about school mathematics and mathematical knowledge whether institutionalized or not. As a social, cultural and political practice, school mathematics should give priority and more attention to the less privileged ones, echoing their voices. It was for such school mathematics, more egalitarian and less representative of the hegemonic thinking, that a proposal was built based on key concepts grounded in educational and curriculum theories in line with: Ethnomathematics, which helps to strengthen the idea that mathematical knowledge is hybridized and is based mainly on restructuring and strengthening the voices that were silenced; with the Critical Mathematics Education, which is largely concerned with the political aspects of mathematics education, that is, issues related to power; with Mathematical Modeling, which is an important part of the discussions involving school mathematics and power relations, and with the Mathematical Enculturation, which proposes a school mathematics curriculum centered on the cultural dimension.