dc.description.abstract | Este trabalho trata da especificidade da constituição da educação museal. Partindo da hipótese de que essa tipologia educacional tem características em seu funcionamento que a diferenciam de outras modalidades educacionais, e que se mantêm à revelia das diferentes tipologias institucionais, optou-se por um estudo que possibilitasse a apreensão dos seus elementos singulares. A abordagem metodológica utilizou o referencial das pesquisas qualitativas em educação, tomando-se como foco de análise as práticas estabelecidas pelos setores educativos dessas instituições. Para a coleta de dados foram selecionadas três instituições com consolidada prática educacional e que possibilitassem um olhar comparativo entre diferentes tipos de museus: o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (SP), um museu de ciências humanas; o Museu de Astronomia e Ciências Afins do Ministério da Ciência e Tecnologia (RJ), um museu de ciência e tecnologia; e a Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP), um museu de artes plásticas. O referencial teórico adotado como base para a análise foi o conceito de dispositivo pedagógico, do sociólogo da educação Basil Bernstein, por considerar que ele oferece a possibilidade de uma visão sistêmica sobre os mecanismos de constituição e funcionamento dos processos educacionais existentes nos museus. Também foram utilizadas as discussões sobre o papel da educação em museus empreendidas por estudiosos nacionais e internacionais que se debruçam sobre esse tema. Os resultados obtidos demonstram a existência de uma especificidade nos processos de constituição da educação em museus. Um primeiro aspecto dessa especificidade é a existência de um campo interessado na criação de políticas públicas para as instituições museais. Compreendido a partir do que Bernstein qualifica como campo recontextualizador oficial, nele atuam órgãos do Estado, em cujas políticas os museus participam por adesão, configurando uma esfera, até o momento, de pouca influência na determinação da prática educativa dessas instituições. Também externa aos museus existe uma segunda esfera de regulação constituída pelos órgãos de financiamento da ação educativa, públicos e privados. Um segundo aspecto evidenciado pelas análises é a autonomia dos educadores na proposição de seus objetivos e práticas educacionais, situação parcialmente tributária do posicionamento da educação no interior da instituição museal. Como decorrência, os educadores aparecem como produtores dos textos originais sobre educação em museus, além de responsáveis pela determinação de suas práticas educativas. Essa afirmação é sustentada pela existência de um campo intelectual da educação em museus, com forte crescimento nacional e internacional nos últimos anos, no qual os educadores têm um papel importante de conformação. Para a análise das condicionantes que atuam no contexto da prática educativa dos museus foram escolhidas três categorias analíticas: o tempo, o espaço e os discursos. A relação entre esses três elementos é determinada a partir de uma lógica própria da educação museal, mas que comporta especificidades a partir dos conteúdos/acervos de cada instituição. Por meio das análises empreendidas contatou-se que a prática instrucional dos museus estudados é fortemente marcada pelo caráter dialógico, caracterizando o que Bernstein denomina de prática instrucional indireta. Nessa prática tempo, espaço e objeto/discurso específicos são constantemente negociados a partir dos parâmetros estabelecidos pelas características do público e pelos objetivos da prática educacional de cada museu.
===ABSTRACT===
This work presents the complexities involved in museum education. The hypothesis is that this type of education has certain characteristics differentiating it from other education modalities, and that remain in absence of the institutional museum typologies. The objective of this study is to understand the singular elements of this type of education. We applied the methodological background used by qualitative research in education; the analysis focused on practices established by the educational sectors of the museums. In order to collect the data, we have selected three museums that have consolidated educational practice and enabled the comparison: The Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (São Paulo), a human sciences museum; the Museu de Astronomia e Ciências Afins do Ministério da Ciência e Tecnologia (Rio de Janeiro), a museum devoted to science and technology; and the Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo), a museum of fine arts. The theoretical referential selected is the one developed by Basil Bernstein, the pedagogical device, which offers a systemic view of the mechanisms of the functioning and constitution of educational processes that take place in the museums. Other national and international authors were also consulted. Results show that there are specificities involved in this type of education. The first aspect is the existence of a field interested in the creation of public policies for museums. Bernstein names it an official field of recontextualisation, where the State power acts and the museums take part by adhesion, a sphere, up to present, of small influence in the determination of educative practices in these institutions. There is also an external sphere of regulation constituted by funding agencies of educational action, public and private. A second aspect evidenced by this analysis is the autonomy of educators to establish their objectives and educational practices, a situation that owes its configuration to the concept of education proposed by the museums. As a result, the educators are responsible for the production of original texts about education in museums and for the determination of their own educational practices. This situation is sustained by the existence of an intellectual field of education in museums that has become notorious nationally and internationally in recent years in part due to the work of educators. We have selected three analytical categories in order to analyze the determining factors in the context of the educational practice in the museums: time, space and discourses. The relation among these elements is determined by a museum educational logic, which presents specific practices due to the content/collection of each institution. Results show that the educational practice employed by the museums studied has a considerable dialogic content, what Bernstein refers to as indirect teaching practice. This practice, time, space and specific discourse/object are constantly negotiated by making use of parameters that are established and by taking into consideration the characteristics of the public and the educational objectives of each museum. | es_ES |