dc.description.abstract | O tema central desta tese é a análise da imagem da criança no cinema. Para tanto, este trabalho está alicerçado, ele mesmo, numa imagem conceitual tríptica, na qual as noções de criança, imagem, autoria remetem, estruturalmente, a seus três eixos fundamentais. Assim, o objetivo desta pesquisa é desenvolver o conceito de criança a partir de uma perspectiva que privilegia analisar, em imagens fílmicas: 1) uma vontade afirmativa de potência da criança, aliada, nietzschianamente, aos conceitos de “esquecimento” e “novo começo”; 2) a estética e a imagem cinematográfica não como elemento de representação da criança, mas, antes, como efeito-superfície de sua exata produção; 3) a questão da autoria, partindo não do princípio da unidade totalizadora “autor”, mas como processo que consiste, também por parte deste, na organização, sobretudo, de personagens (personae) (STEINER, 2003) e a partir de uma espécie de “assinatura” (FISCHER, 2005) para seus filmes: uma autoria que teria menos a ver com instauração de verdades e mais com meras (e potentes) vibrações, justamente porque a criança, na condição de persona, é tomada, acima de tudo, como prática de criação. Para tanto, dois conjuntos de materiais constituíram-se como corpus de análise. O primeiro conjunto de materiais foi selecionado a partir daquilo que se entende por “cinema de autor”. A escolha deste critério – histórico no campo do cinema – permitiu que, ao invés de tomar o conceito de autoria como dado, ele fosse problematizado a partir das contribuições de Michel Foucault sobre as categorias de “obra” e de “autor”. O segundo conjunto de filmes foi extraído de um amplo levantamento cinematográfico acerca da relação mais ampla entre criança, cinema e autoria e foi selecionado na medida em que se tratava de filmes que punham em operação de forma mais contundente as discussões essenciais neste trabalho (quais sejam, discussões sobre “real e “ficção”, “pureza” e “impureza” da imagem). Temos assim constituído o corpus de análise desta pesquisa: O Garoto (1921), de Charles Chaplin; Zero de Conduta (1933), de Jean Vigo; Vítimas da Tormenta (1946), de Vittorio De Sica; Bom Dia (1959), de Yasujiro Ozu; Os Incompreendidos (1959) e O Garoto Selvagem (1970) de François Truffaut; Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981), de Hector Babenco; Fanny e Alexander (1983), de Ingmar Bergman; Onde Fica a Casa do Meu Amigo? (1987), de Abbas Kiarostami; Central do Brasil (1998), de Walter Salles, A Língua das Mariposas (1999), de José Luis Cuerda; Promessas de um Novo Mundo (2001), Justine Shapiro e B. Z. Goldberg; Nascidos em Bordéis (2004), Ross Kauffman e Zana Briski. Por fim, partindo de um entendimento do cinema como arte e da não diferenciação básica entre filmes para criança e filmes para adultos, apresento, propositivamente, algumas bases sobre as quais seria possível efetivar um encontro entre cinema e escola. Entendo que se trata de um trabalho ético e político a ser realizado, tendo em vista que, muitas vezes, a própria escola vem se configurando como o único espaço onde crianças e jovens têm acesso a esse tipo de experiência.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
The main subject of this thesis is the analysis of children image in the cinema. As such, this work itself is founded on a tryptich conceptual image; on which the notions of child, image and authorship are its three fundamental axes. Therefore, the objective of this research is to develop the concept of child in a perspective that analyzes, in motion picture images: 1) an will of (affirmative) power of child, associated to the Nietzsche concept of forgetfulness and new beginning; 2) the aesthetics and the cinematographic image as surface-effects of its accurate production, not as an element of child representation; 3) the way some directors create a “signature” for their films: a signature more related to mere (and powerful) vibrations rather than an attempt to establish truth; precisely because here the child is viewed as a practice of creation – as understood by Steiner (2003). Two sets of materials were used to form the corpus for analysis. The first set was selected using the criterion of authorship, more specifically, what is understood as “cinema of author”. The choice of this criterion – historical in the field of cinematography – allowed the concept of authorship to be studied based on Michel Foucault contributions on the categories of “author” and “work”, rather than seen as pure data. The second set of movies was extracted from an extensive cinematographic research about the broad relation between child, cinema and authorship. They were selected for forcefully bringing the essential discussions of this work to surface (being, discussions about “reality” and “fiction”, image “purity” and “impurity” or even about the webs of visibility and enunciability of the cinematographic image). The movies are: The Kid (1923), Charles Chaplin; Zero for Conduct (1933), Jean Vigo; Shoeshine (1946), Vittorio de Sica; Good Morning (1959), Yasujiro Ozu; The 400 Blows (1959) and The Wild Child (1970), François Truffaut; Pixote (1981) Hector Babenco; Fanny and Alexander (1983), Ingmar Bergman; Where Is the Friend’s House? (1987), Abbas Kiarostami; Central Station (1998), de Walter Salles; Butterfly (1999), de José Luis Cuerda; Promises (2001), Justine Shapiro and B. Z. Goldberg; Born into Brothels: Calcutta’s Red Light Kids (2004), Ross Kauffman and Zana Briski. Finally, starting from the understanding of cinema as an art, and the basic non-difference between a movie for children and a movie for adults; I present some basis over which it would be possible to gather cinema and school. It is my understanding that this would be an ethic and politic work considering that, in many cases, the school has been the only space where children and youngsters had access to such movie experiences. | en_US |