Entre mesadas, cofres e práticas matemáticas escolares : a constituição de pedagogias financeiras para a infância
Abstract
A presente investigação inscreve-se nos campos dos Estudos de Gênero e dos Estudos Culturais que se aproximam dos referenciais pós-estruturalistas, apoiados na teorização de Michel Foucault. Examino que pedagogias financeiras para a infância se constituem na articulação dos discursos da Educação Matemática com os discursos do senso comum, produzindo modos de lidar com dinheiro que educam crianças urbanas inseridas em processos de escolarização contemporâneos. Analiso práticas culturais implicadas no uso do dinheiro, relatadas em diários e entrevistas de crianças que cursavam a quarta série e apresentadas como enredos de problemas escolares de duas coleções de livros didáticos de Matemática para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Descrevo uma discursividade sobre modos de gerenciar o dinheiro que circulam em várias instâncias culturais, especificamente nos conhecimentos matemáticos escolares. Buscando convergências, reiterações e rupturas entre os discursos veiculados nos materiais empíricos produzidos, e ainda problematizando os efeitos de uma educação financeira ativada por experts, argumento que a naturalização da posse de recursos financeiros e a invisibilidade da imprescindível necessidade dos mesmos na ação de comprar são elementos do campo discursivo analisado que, ao se articularem com a incitação ao consumo, produzem uma pedagogia financeira que apaga as diferenças e as desigualdades sociais existentes. Ainda questiono os atravessamentos de gênero que estão contidos nessas pedagogias que diferenciam meninos de meninas em seus modos de conseguir, gastar e guardar dinheiro, além de reforçar noções conflitantes de feminilidades e masculinidades.
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This research appears within the fields of Gender Studies and Cultural Studies approaching post-structuralist references, supported by the theory of Michel Foucault. I examine which financial pedagogies for childhood are made on the articulation of Mathematics Education discourses with the common-sense discourse, producing ways to deal with money that educate urban children allocated in contemporary schooling processes. I analyze cultural practices involved in the use of money, reported in diaries and interviews of children who attended the fourth grade and presented as plots for school problems of two collections of Mathematics books for the early years of elementary school. I describe a discursivity about ways of managing money that travels in diverse cultural instances, specifically in the mathematical knowledge from school. Seeking similarities, repetitions and breaks between discourses conveyed through empirical materials produced, and even questioning the effects of financial education activated by experts, I argue that the naturalization of financial resources possession and the invisibility of their essential needs in the action of buying are elements of the discursive field analyzed, that, by relating with the encouragement to consume, produces a financial pedagogy that erases differences and social inequalities. I still question the gender crossings that are contained in these pedagogies that differentiate boys from girls in their ways of getting, spending and saving money, and enhance conflicting notions of femininity and masculinity.