Jovens em ONGS e a representação social da violência : descontinuidade na violência, afirmação do sujeito de direitos
Abstract
Esta tese investiga as Representações Sociais de violência em jovens da camada popular e a descontinuidade na violência a partir da inserção em Organizações Não Governamentais, cuja proposta seja prevenir e/ou suspender a violência. Nortearam o trabalho os objetivos de interpretar a cultura das ONGs pesquisadas a partir das concepções de juventude que as atravessam e a relação com as formas de promover o atendimento do público juvenil; compreender os significados das representações sociais de jovens sobre a “cultura da violência” e dos indicadores da apropriação da condição de sujeitos de direitos, com reflexos na descontinuidade na relação com a violência. O pressuposto defendido é que a relação dos jovens com a violência passa por descontinuidades a partir das oportunidades que atendem às necessidades juvenis e da compreensão da condição de sujeito de direitos. O arcabouço teórico do trabalho articula as abordagens da Teoria das Representações Sociais proposta por Moscovici; da Sociologia da Juventude com apoio em Margulis, Pais, Sposito, Abramo, entre outros, considerando a paradoxal relevância conquistada pela juventude na sociedade ao lado das tradicionais concepções negativas sobre os jovens; as visões antropológica, sociológica e filosófica de cultura e de violência(s) a partir de Arendt, Chauí, entre outros; a explicitação de violência fundadora, conforme René Girard; as nuances da exclusão, segundo Robert Castel; a definição de carência, necessidades e desejo, segundo Heller. A juventude é abordada considerando sua inserção no mundo contemporâneo e caracterizada a partir dos pressupostos do Estatuto da Criança e do Adolescente. O binômio juventude e violência, a cultura das ONGs – locus da pesquisa, as representações sociais manifestadas pelos jovens sobre violências e a aproximação da condição de sujeitos de direitos, são objeto de discussão. A pesquisa qualitativa integrou observações etnográficas; a constituição de grupos de conversação, um em cada ONG, e um grupo de controle com jovens não participantes de ONGs; entrevistas individuais com jovens e com monitores das ONGs, sobre práticas que facilitaram o entendimento da condição de sujeitos de direitos. Os grupos de conversação registraram experiências dos jovens enquanto vítimas e autores de violências, sentimentos, propostas, necessidades, bem como os entendimentos mais amplos sobre a sociedade. A análise dos indicadores empíricos deu-se em três níveis: o primeiro envolveu a análise da cultura das ONGs, identificando as conceituações de jovem em situação de vulnerabilidade a que se filiam e como interpretam as necessidades juvenis e a condição de sujeitos de direitos. O segundo se debruçou sobre as representações sociais de violência, levando em conta as hegemônicas, emancipadas e polêmicas. Houve predomínio das representações hegemônicas de violência, as quais foram organizadas por problemáticas como violência e machismo, preconceito, abuso de poder, violência vivida como aventura, furto, entre outras. O terceiro nível de análise deu-se sobre a descontinuidade nas representações sobre violência(s) e seu efeito na condição de jovens como sujeitos de direitos, indicando que há os que demonstram iniciativas para transitar pela sociedade com civilidade, capacidade para acionar o protagonismo positivo cotidiano e articular redes possíveis. As reflexões e recomendações finais remetem ao fortalecimento da educação não escolar conectado ao aprofundamento do conhecimento sobre as necessidades dos jovens e à constituição de estratégias preventivas e em rede. Esperamos haver contribuído com o reconhecimento do longo caminho a ser articulado em prol da constituição dos jovens como sujeitos de direitos.
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This thesis investigates the social representations of violence, by young people from popular layer and their discontinuity starting from the insertion in Non-Governmental Organizations, which proposal is to prevent and/or to suspend the violence. The objectives that orientate the work are: to interpret the culture of the researched NGOs starting from youth's concepts that cross them and the relationship with the forms of promoting the juvenile public's service; to understand the meanings of the young’s social representations on the "culture of the violence" and of the appropriation indicators, by them, of the subject of rights’ condition, with reflexes in the alteration of the relationship with the violence. The defended presupposition is that the relationship between young people with the violence discontinues starting from the understanding the condition of subject of rights, through opportunities that assist the juvenile needs. The theoretical outline of the work articulates the approaches of the Social Representations Theory proposed by Moscovici; the Youth's Sociology supported by Margulis, Pais, Sposito, Abramo, among others, considering the paradoxical relevance conquered by the youth in the society beside the traditional negative concepts about the young people; the anthropological, sociological and philosophical visions of culture and violence starting from Foucault, Arendt, Chauí, among others; the explicitness of founded violence, according to René Girard; the exclusion nuance, as stated by Robert Castel; the definition of lack, needs and desire, according to Heller. The youth is approached considering its insertion in the contemporary world and characterized starting from the presuppositions of the Child and Adolescent’s Statute. The binomial youth and violence, the culture of NGOs (the research locus), the representations manifested by the young people about violence and their discontinuity due to the approach to the condition of subject of rights, these are objects of discussion The qualitative research integrated ethnographies observations; the constitution of focal groups, one in each NGO, a control group with young people nonparticipants of NGOs and individual interviews in order to register the representations about violence, and with monitors of NGOs, on practices that facilitated the understanding to the condition of the subject of rights. The focal groups registered the young people’s experiences while victims and authors of violence, feelings, proposes, needs, as well as wider understandings about the society. The analysis of the empiric indicators happened in three levels: the first one involved the analysis of the NGOs´ culture, identifying the understandings about young people in situation of vulnerability that cross them and how they interpret their needs and the condition of subject of rights. The second one leaned over the social representations of violence taking in consideration the hegemonies, emancipated and controversies. There was prevalence of the hegemonic representations of violence, which were organized by problems such as violence and sexism, prejudice, abuse of power, violence as a type of adventure, theft, among others. The third analysis level was about the discontinuity in the representations of violence and the effect in the young people condition as subject of rights, indicating that some of them take initiatives moving through the society with civility, with capacity to work the daily positive protagonism and to articulate possible nets. The final reflections and recommendations referred to the fortification of the non-formal education connected to the deepen knowledge about the young people needs and to the constitution of preventive strategies and in net. We hoped that we have contributed with the recognition of the long path to be articulated on behalf of the young's constitution as subject of rights.