A Denegação do mestre: os discursos da dominação e o mal-estar contemporâneo
Abstract
A presente tese propõe que há hoje uma denegação do Mestre, quando a mestria é mais do que nunca reafirmada no laço social capitalista dominante, produzindo um modo singular de mal-estar, apesar do apagamento de figuras de Mestre historicamente construídas no campo da religião e do pensamento humano, associadas ao poder e ao saber. A primeira parte trata do mal-estar no laço social, a partir de um percurso teórico que investiga os fundamentos psicanalíticos do laço social, desde os textos culturais de Freud até a concepção lacaniana acerca dos discursos como modos de vínculo fundados na linguagem em conjunção com o gozo, determinados pelas leis do inconsciente. A segunda parte, depois de interrogar o que é o Mestre, recorta uma figura no campo religioso que foi chamado Mestre Divino, o qual como um terceiro simbólico foi ordenador da subjetividade até a modernidade, sendo depois substituído por um mestre constituído num campo não mais divino, mas humano, representado primeiro pelo pensamento filosófico, depois pelo saber científico, Mestre Humano. Este começa seu declínio na medida em que o saber foi se transformando em valor de troca pela entrada em cena de um mestre que não é mais revestido imaginariamente, nem tem estatuto simbólico como os anteriores, mas que exerce seu domínio através do dispositivo discursivo capitalista, Mestre Capital. A terceira parte da tese, ao abordar os discursos da dominação e o mal-estar na contemporaneidade, analisa alguns aspectos da configuração do laço social capitalista e faz uma reflexão sobre o mal-estar no ato educativo, peculiar em cada um dos discursos. Finalmente levanta questões acerca dos efeitos para o sujeito quando, pelo lugar que ocupa no dispositivo discursivo capitalista, é tomado numa ilusão de domínio de si mesmo e na crença da possibilidade de acesso direto ao objeto que lhe falta pela via dos objetos de consumo, produzidos pela ciência, em detrimento da relação com os outros. O mal-estar contemporâneo se expressa nos atos de consumir/consumir-se em manifestações banais da vida cotidiana ou mesmo psicopatológicas. Há dificuldade de se fazer o luto decorrente da nostalgia do Um que não se realiza, já que o pai/mestre idealizado só existe na fantasia do neurótico e não há objeto capaz de evitar a castração, a não ser pela ilusão ou pelo delírio.
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La présente thèse propose qu’il y a aujourd’hui une dénégation du Maître, quand la maîtrise est plus que jamais réaffirmée dans le lien social capitaliste dominant, produisant un mode singulier de mal-être, malgré l’effacement de figures de Maître historiquement construit dans le champ de la religion et de la pensée humaine, associées au pouvoir et au savoir. La première partie traite de mal-être dans le lien social, à partir d'un parcours théorique qui investigue les fondements psycanaliques du lien social, depuis les textes culturels de Freud jusqu’à la conception lacanienne au tour des discours comme modes de liaison fondés dans le langage en conjonction avec la jouissance, determinés par les lois de l’inconscient. La seconde partie, après avoir interroger ce qu'est le Maître, découpe une figure dans le champ religieux qui a été appelé Maître Divin, lequel comme un troisième symbolique a été organisateur de la subjectivité jusqu'à la modernité, étant après substitué par un maître constitué dans un champ pas plus divin, mais humain, representé premièrement par la pensée philosophique, puis par le savoir scientifique, Maître Humain. Celui-ci commence son déclin dans la mesure où le savoir s’est transformé en valeur d’échange par l’entrée en scène d’un maître qui n’est plus revêtu imaginairement, qui n’a pas non plus le statut symbolique comme les antérieurs, mais qui exerce sa domination à travers le dispositif discoursif capitaliste, Maître Capital. La troisième partie de la thèse, abordant les discours de la domination et le mal-être dans la contemporanéité, analyse quelques aspects de la configuration du lien social capitaliste et fait une réflexion sur le mal-être dans l’acte éducatif, péculier dans chacun des discours. Finalement la thèse soulève des questions autour des effets par le sujet quand, par la place qu’il occupe dans le dispositif discoursif capitaliste, est pris dans une illusion de contrôle de soi-même et dans la croyance de la possibilité de l’accès direct à l’objet qui lui manque par le biais des objets de consommation, produits par la science, au détriment de la relation avec les autres. Le mal-être contemporain s'exprime dans les actes de consommer/se consumer dans des manifestations banales de la vie quotidienne ou même psychopathologiques. Il y a une difficulté de faire le deuil provenant de la nostalgie de l’ Un qui ne se réalise pas, puisque le père/maître idéalisé n’existe que dans la fantaisie du névrosé et il n’y a pas d’objet capable d’éviter la castration, si ce n´est par l´illusion ou par le delire.