O corpo rifado
Abstract
O Corpo Rifado trata-se de uma tese onde procuro acompanhar a trajetória da protagonista de um filme brasileiro e sua tentativa de se reinventar diante das condições de possibilidade existentes naquele contexto. O Céu de Suely (2006) narra a história de Hermila, uma jovem que volta de São Paulo para sua cidade natal, no interior do Ceará, com seu filho pequeno. Ela aguarda a chegada de seu amor. Logo ela se dá conta de que Mateus não cumprirá com a promessa de encontrá-la. Diante disso, Hermila cria estratégias de sobrevivência enquanto sonha: sair daquele lugar custe o que custar. A tese lança um olhar possível sobre O Céu de Suely. Os itinerários de gênero e sexualidade experimentados por Hermila ao longo da trama fílmica ocupam o centro desta tese, bem como alguns itinerários de outras mulheres que fazem (parte de sua) história. O mergulho nesse filme específico foi regido tanto pelo aporte teórico que sustenta esta tese (especialmente a teorização desenvolvida por Judith Butler em composição com os estudos foucaultianos em torno da sexualidade e do poder) como pelo recurso metodológico escolhido (“etnografia de tela”). A pesquisa toma como ponto de partida o filme dirigido por Karim Aïnouz e a análise de enunciados que compõem e se articulam em torno (d)o gênero, (d)a sexualidade e (d)a brasilidade. Na análise que faço, procuro dar ênfase a enunciados performativos que indicam um lugar para a mulher, um modo de ser mulher (brasileira), um jeito de exercer a sexualidade, bem como, a enunciados que parecem subverter a ordem do gênero e da sexualidade. A partir do (e com o) filme, questiono: Que enunciados performativos são reiterados para a constituição de uma suposta identidade da „mulher brasileira‟? Que enunciados indicam possibilidades de resistência, subversão e ressignificação? Que outros enunciados parecem manter normas regulatórias do gênero e da sexualidade? Como a linguagem cinematográfica empregada neste filme produz sentidos, provoca deslocamentos, desestabiliza, mantém, visibiliza e invisibiliza determinados modos de ser mulher? Ainda que essas questões não sejam assertivamente respondidas na tese, elas indicam um percurso. O filme aponta para possibilidades de resistência e subversão e, no mesmo instante, aciona performativos de gênero e sexualidade. A ação de rifar-se pode ser lida como a possibilidade de agência da protagonista naquele contexto. Encerro, ao lado de Hermila, uma jornada compartilhada que nos convoca novamente ao deslocamento, outra vez na estrada.
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O Corpo Rifado is a thesis where I try to follow the trajectory of a Brazilian film‟s protagonist and her attempt to reinvent herself in the conditions of possibility existing in her living context. The film O Céu de Suely (2006) tells the story of Hermila, a young woman who returns from Sao Paulo to her home town in the interior of Ceará, taking together her young son. She awaits the arrival of her lover, Mateus. But soon she realizes that he will not fulfill his promise of meeting her. From then on, Hermila creates survival strategies. At the same time, she dreams about leaving that place at all costs. The thesis looks at the possibilities given by the Film. The itineraries of gender and sexuality experienced by Hermila and ploted along the scenes occupy the center of this thesis, as well as some others routes taken by women who are part of the story. The immersion in this particular film was governed by both the theoretical approach that supports this thesis (especially the theory developed by Judith Butler in composition with the Foucauldian studies of sexuality and power) and the methodological approach chosen ("ethnography of the screen”). The research‟s starting point is the film (directed by Karim Aïnouz) and the analysis of statements organized around concepts of gender, sexuality and Brazilianness. In the analysis I try to emphasize the performative utterances that build a certain place for women, a certain way of being a woman (or a Brazilian woman) and a certain way to exercise sexuality, as well as the statements that seem to subvert the order of gender and sexuality. From and with the movie, I introduce the following questions: What performative utterances are repeated to form a supposed identity of the Brazilian woman? Which statements indicate possibilities of resistance, subversion and redefinition? What other statements seem to maintain regulatory standards of gender and sexuality? How the cinematographic language used in the film makes sense, causes displacement, destabilizes, maintains and renders certain ways of “being a woman” visible or invisible? While these questions are not answered assertively in the thesis, they indicate a route. The film points out to possibilities of resistance and subversion, and simultaneously, triggers gender and sexuality‟s performatives. The raffle‟s action can be read as the possibility of an agency of the protagonist in that context. Along with Hermila, I conclude a shared journey which, once more, calls to the displacement, on the road again.